A 40 minutos de São Paulo está um dos melhores lugares para se passar um feriado: Fazenda Montanhas do Japi. E foi justamente nesse ótimo hotel fazenda que passamos a última Páscoa.
Encrustado nos pés da área de preservação da Serra do Japi, é longe o suficiente para abafar o barulho da cidade, e perto o suficiente para não haver desculpas nem dramas para cair na estrada. Logo ali, em Jundiaí.
(interaja com o mapa para conhecer a região)
O hotel fazenda é um complexo de 8 lagos rodeado por morros de mata virgem e flores perfumadas. É muito bem cuidado, com bosques de árvores, campos de grama aparada e borboletas, muitas borboletas. Uma visão bucólica do paraíso.
A Casa de Pedra é a principal e tem uns 3 quartos para hóspedes, lounge, lazer, etc, e fica na subida de um morro, de frente para o lago principal, o que lhe confere uma bela vista de contemplação. Mas ficamos na Casa Gênio, afastada uns 400m (veja no mapa) e praticamente no meio do mato, com 2 suites, sala, cozinha e varanda, cujo caminho até a casa principal passa por um bosque de amoreiras, com borboletas por toda parte.
Suzana e Hanah lideram tudo não como donas de uma pousada, mas como anfitriãs em sua sala de estar, almoçando junto e contando as histórias de gerações passadas da família e da fazenda, a relação da região com a cultura da uva, e depois eucaliptos, etc.
A casa principal foi construída sobre ruínas seculares de jesuítas. Para evitar intervenções de estilos muito contrastantes, toda a arquitetura nova é rústica, mas com um inconfundível toque feminino e confortável. As constantes borboletas dão o toque final ao visual leve e colorido.
Para os aventureiros há as trilhas por dentro da Serra do Japi, beirando rios de águas cristalinas, árvores primárias, perdendo-se e achando-se ao sair em outro ponto inesperado da fazenda, despreocupadamente, guiado pelas infindáveis borboletas.
É tão perto que no sábado chamamos os amigos de São Paulo para virem almoçar e passar o dia, nadar no lago, remar no caiaque, andar a cavalo, contemplar as borboletas na paisagem florida.
É tão longe que a noite vimos um céu escuro e estrelado, típico dos lugares afastados. Aí a lua cheia logo nasceu e mandou as estrelas embora. Mas no dia seguinte, as borboletas continuavam lá.
Os bons cavalos nos levaram ao topo de um morro cuja paisagem lembrava Stonehenge. Muitas rochas. E borboletas. E o Pico-do-Jaraguá lá longe.
Fazer três refeições daquelas por dia era desencorajador para nós, visitantes deslumbrados com a leveza de tantas borboletas. No café da manhã, além dos bolos e pães caseiros, deixavam umas chapas de ferro sobre o fogão a lenha para prepararmos nossos próprios sanduíches ou panquecas. Tinha que preparar sempre dois: um para matar a fome e outro para exercitar a pretensão de sanduicheiro-chapeiro-cozinheiro.
O almoço era concorrido com quem só vinha passar o dia, mas ao sentarmos nas mesas da varanda alta, contemplando os lagos e as borboletas, tudo se acalma. Se demandávamos demais do almoço, as redes de balanço sob o bosque de eucaliptos gigantes nos chamavam para um cochilo. Quanto mais altos, mais sensíveis são os eucaliptos às brisas que vem e vão, e juntos formavam o sonoro coro da canção de ninar que combinava com a rede.
O sino do lanche da tarde nos despertava, e aí as estrelas eram o suco de erva cidreira e a torta de banana com aveia.
À noite prometíamos tomar só uma sopa, mas não dava para resistir. A situação se complicou no sábado à noite: o forno de pizza estava quente, e a pretensão de cozinheiro pôde novamente ser exercitada ao montar as deliciosas redondas. Era a última noite.
No domingo choveu como o batismo dos céus. As borboletas foram se esconder, mas não por muito tempo. Logo voltaram.
Mas já era hora de partir. O consolo ao voltar para São Paulo era o céu de um cinza homogêneo e denso como uma redoma, mas às seis da tarde o sol atravessava-o por baixo alaranjando toda a cidade. Era um lindo jogo de contrastes brilhantes e cinzentos que fez surgir um arco-íris intenso estampado sobre o cinza. Pudemos vê-lo inteiro, de ponta a ponta. Cena de rara beleza na cidade.
Naquela hora, já em São Paulo, lembramos das borboletas. E sentimos saudades delas.